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Melhoramento genético: saiba como isso influencia na qualidade da carne catarinense

Ainda que o Brasil seja um dos maiores exportadores de carne suína do mundo, o consumo desta carne pelo brasileiro ainda é relativamente baixa. Pode-se creditar isso a alguns mitos, sejam de origem religiosa ou provenientes da falta de informação, como a crença de que a carne suína é rica em colesterol. Entretanto, a realidade é que essa carne é considerada uma importante fonte proteica de baixa gordura e de alto valor nutritivo.
No que diz respeito ao valor nutricional e teor de gordura, é onde se concentram os esforços de melhoramento genético aplicados a suinocultura nos últimos anos. Graças aos avanços nesta área, o produto tem conquistado novos apreciadores, principalmente no mercado internacional.
Evolução do melhoramento genético na suinocultura no Brasil
Foram os portugueses que trouxeram os suínos para o Brasil, em 1532. Vieram para a nova colônia animais das raças Alentejana, Transtagana, Galega, Bizarra, Beiroa e Macau. Essas raças deram origem, ao longo de quatro séculos de trabalho e de melhorias, às "raças nacionais", como Canastra, Caruncho, Pereira, Tatu, Piau e Pirapitinga.
Com a criação da Associação Brasileira de Criadores de Suínos (ABCS), em 1958, iniciou-se o controle genealógico dos suínos e importação de raças exóticas. A principal motivação da ABCS era aumentar a produção da carne, já que a banha, na época principal produto das raças nacionais, perdia cada vez mais espaço no mercado para os óleos vegetais, principalmente para o óleo de soja.
De acordo com o livro Sonho, Desafio e Tecnologia - 35 Anos de Contribuições da Embrapa Suínos e Aves, foi na década de 70, com a introdução do Teste de Progênie (TP), o marco inicial do melhoramento genético de suínos no Brasil. O teste avalia o potencial genético dos pais, especialmente dos machos, por meio do desempenho e da carcaça dos filhotes. O TP foi implantado em Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo e controlado pelas Associações de Criadores.
Além do TP, surgiu na década de 70 também o incremento das integrações (associação entre produtor e indústria), grandes responsáveis pela disseminação do material genético melhorado. Com essa associação, ocorreram a substituição de fêmeas puras por fêmeas híbridas e ainda a implantação da primeira Central de Inseminação Artificial (CIA).
Santa Catarina ganha destaque nessa história. O Estado, ainda na década de 70, lançava o Projeto de Suinocultura, que, com os esforços do Serviço de Extensão Rural (Acaresc) e da Associação de Criadores de Suínos (Accs), mantinha uma CIA própria, importava material genético melhorado, realizava provas zootécnicas e testes concentrados, além de manter o registro genealógico de todos os animais. O Projeto ainda visava a promoção de exposições e feiras como forma de difundir o material genético produzido no Estado.
Tamanha a importância de Santa Catarina para a suinocultura brasileira fez com que a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) criasse no Estado o Centro Nacional de Pesquisa de Suínos em 1975.
Suíno light
Depois de séculos de melhoramento genético, os suínos mostram perfil muito diferente de seus antepassados. Eles ganharam músculo e perderam gordura. Isso tudo por meio do cruzamento de raças, onde também foi possível melhorar a eficiência produtiva e reprodutiva dos suínos, já que animais de alta qualidade genética permitem um maior número de animais nascidos. Mas, além disso, foi também possível desenvolver variedades do produto mais adequadas ao mercado consumidor contemporâneo, que exige uma carne magra e saudável.
A grande conquista nesse sentido foi apresentada em 1996, quando a Embrapa lançou a primeira versão do suíno light. A linhagem MS58 tinha uma carcaça com 55% de carne e espessura controlada do toucinho. Dando importante continuidade aos estudos e ao melhoramento genético da espécie, a criação já está na terceira geração, lançada recentemente: o Embrapa MS115, cujo percentual de carne está acima dos 62%, com expressiva redução na espessura do toucinho.
Entre os diferenciais dessa nova linhagem, o MS115 se adapta a todo o território nacional. Ele também é livre do gene halotano, o que confere maior resistência ao estresse e uma capacidade de produzir carne de melhor qualidade.
Com essas transformações no perfil do produto, houve impacto direto em toda cadeia produtiva da suinocultura, desde o consumo da carne, até sua utilização em subprodutos, como embutidos e frios.
O melhoramento genético é a aposta dos suinocultores para, além do impacto econômico, garantir a qualidade da carne, que se torna cada vez mais magra e saudável para o consumo. O reconhecimento de Santa Catarina nesse setor também incentiva os estudos na área.
Fonte: Diário Catarinense