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Docilidade e habilidade materna: os novos pilares da alta produtividade

Seleção genética e manejo focados no comportamento das matrizes reduzem perdas, aumentam a sobrevivência dos leitões e fortalecem a sustentabilidade da suinocultura moderna.
Artigo escrito por João Cella, zootecnista e coordenador comercial na Topgen Genética Suína
Na suinocultura moderna, fatores como docilidade, habilidade materna e bem-estar animal deixaram de ser apenas conceitos éticos e subjetivos. Hoje, são reconhecidos como elementos essenciais para a eficiência produtiva, impactando diretamente o desempenho zootécnico e a sustentabilidade das granjas comerciais.
A integração entre genética e manejo tem revelado que comportamento dócil, aliado a ambientes calmos, resultam em matrizes mais produtivas e leitegadas mais saudáveis e resilientes.
Muito mais do que traços comportamentais
A docilidade e a habilidade materna deixaram de ser uma característica secundária e passou a ser considerada um critério técnico de seleção genética. Essa mudança de paradigma acompanha as transformações nos sistemas de produção — com a expansão de modelos sem gaiolas e foco no bem-estar — e a busca por fêmeas mais autônomas, adaptáveis e seguras para manejo.
A inclusão dessas características nos programas de melhoramento genético não é apenas uma exigência do mercado: é uma estratégia comprovada para aumentar eficiência, reduzir perdas e elevar o bem-estar sem sacrificar desempenho.
Comportamento da fêmea e a sobrevivência dos leitões
O comportamento materno adequado é essencial para a sobrevivência da leitegada, especialmente nas primeiras 72 horas pós-parto, quando a ingestão de colostro e o risco de esmagamento são críticos.
Fêmeas dóceis e com habilidade materna demonstram melhor cuidado com os leitões, permitindo maior acesso ao leite e menos movimentações que possam lesionar os leitões. Na prática, isso resulta em menor taxa de mortalidade e refugagem e leitões mais pesados ao desmame.
Outro aspecto importante é que fêmeas com bom temperamento e habilidade materna demandam menos intervenções. Isso aumenta sua autonomia reprodutiva e reduz a carga de trabalho sobre a equipe técnica, além de minimizar estressores que poderiam comprometer o vínculo com os leitões.
Docilidade da leitegada: comportamento que se transmite
A influência comportamental da docilidade não termina na fêmea. Estudos mostram que matrizes criadas sob boas condições de manejo e selecionadas geneticamente para a docilidade podem transmitir esse perfil comportamental aos leitões.
A leitegada proveniente dessas fêmeas apresentam menores níveis de cortisol (o chamado “hormônio do estresse”). Esses leitões demonstram respostas positivas como:
·Menor número de lesões cutâneas no pós-desmame, indicativo de menor agressividade social;
·Respostas nociceptivas mais equilibradas, sinalizando maior controle emocional;
·Desempenho zootécnico superior, com maior taxa de sobrevivência, maior viabilidade, maior taxa de desmame e maior peso ao final da fase lactante.
Seleção integrada
Esses dados reforçam a importância da seleção integrada, em que o comportamento é tratado como uma característica herdável e estrategicamente relevante para o desempenho dos leitões.
A docilidade e a habilidade materna também favorecem a uniformidade da leitegada, o que melhora o manejo subsequente nas fases de creche e terminação e facilita as operações na indústria.
Mais ciclos, menos custos
Um aspecto muitas vezes negligenciado nas análises econômicas da granja é o impacto da docilidade na longevidade produtiva das matrizes. Fêmeas mais calmas, que lidam melhor com o ambiente, o manejo e o estresse social, permanecem mais tempo em produção com bom desempenho reprodutivo.
Essas matrizes apresentam menor incidência de descarte precoce por comportamento agressivo, suscetibilidade a doenças e melhor adaptação a novos lotes e instalações. Ao permitir que uma fêmea complete mais ciclos produtivos de forma eficiente, a docilidade contribui diretamente para reduzir o custo de reposição e aumentar o retorno sobre o investimento.
Impactos sobre a mão de obra: eficiência, segurança e retenção
O impacto da docilidade vai além dos animais. Um plantel composto por fêmeas equilibradas proporciona um ambiente de trabalho mais seguro e previsível para a equipe técnica. Isso reduz o risco de acidentes, o desgaste físico dos funcionários e melhora a percepção de bem-estar ocupacional.
Com matrizes dóceis, os manejos tornam-se mais ágeis e menos estressantes. A confiança da equipe aumenta, a curva de aprendizado se encurta e a eficiência das operações melhora. Em um setor que enfrenta desafios com qualificação e retenção de mão de obra, esse é um diferencial competitivo real.
Além disso, a redução de intervenções corretivas libera tempo e energia da equipe para tarefas de maior valor agregado, como a implementação de melhorias no sistema.
Alicerces da produtividade sustentável
O futuro da suinocultura está na convergência entre eficiência produtiva, respeito ao comportamento natural dos animais e valorização das pessoas que atuam na granja.
Nesse cenário, a docilidade e a habilidade materna deixaram de ser apenas indicadores de bem-estar. São pilares da produtividade atual e futura, baseados em genética comportamental, seleção adaptativa e manejo inteligente.
Fêmeas mais calmas, autônomas e cuidadoras geram leitões mais saudáveis, exigem menos intervenção e aumentam a rentabilidade. Por isso, integrar a docilidade aos programas genéticos e à rotina das granjas não é uma escolha – é um passo essencial para um sistema mais estável, sustentável e competitivo.
Fonte: O Presente Rural
Foto: CANVA PRO